terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Reggae agora é Patrimônio Cultural da Humanidade reconhecido pela Unesco

Demorou, mas o reggae entrou na lista de Patrimônio Imaterial da Unesco. O ritmo imortalizado pelo grande Bob Marley a partir da década 1960, foi descrito pela organização como um gênero musical criado em um espaço cultural de grupos marginalizados de Kingston, na Jamaica e imprescindível para o debate de questões como a injustiça, a resistência, amor e humanidade. O reggae possui influências marcantes da música africana, caribenha e o blues norte-americano. O estilo está associado ao desenvolvimento progressivo do ska e do rocksteady na Jamaica da década de 1960. A ascensão do reggae se deu, sobretudo, pelo sucesso do The Wailers, grupo formado por Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer. O conjunto montado em 1963 é conhecido por abarcar os três estágios da evolução do gênero. O repertório apresenta hits do ska, como Simmer Down, uma pegada rocksteady, para desaguar no reggae. É preciso lembrar também as contribuições de Alpha Blondy, Jimmy Cliff, Judy Mowatt, entre outros. Claro que Bob Marley é a grande estrela e o principal embaixador do reggae. Na década de 1970, o jamaicano chamou o protagonismo pra si. Bob cruzou os quatro cantos do planeta disseminando mensagens de paz, incentivando o orgulho negro, ao mesmo tempo em que propunha um levante social contra os sistemas de opressão. Em tempo, a crítica social é o grande diferencial do reggae. Ao cantar contra a desigualdade, fome, racismo e outros problemas sociais, inspira o desenvolvimento de cabeças pensantes. Nesse sentido, o estilo se assemelha muito com o rap. Movimento Rastafári A estética é outro elemento do reggae. Ela está presente nas cores verde, amarelo e vermelho e também nos dreadlocks. No caso do cabelo, a opção vai além do estilo. Os locks são símbolo de resistência. Os dreads possuem ligação direta com África e a luta de negras e negros pela afirmação de sua cultura. As madeixas de foram adotadas por seguidores do Movimento Rastafári. O rastafarianismo é uma expressão religiosa nascida na África na década de 30 do século 20. Os seguidores adoram Haile Selassie, primeiro imperador negro a governar um país africano. Seu reino se deu na Etiópia entre 1930 e 1974 e ele é considerado a manifestação ressurrecta de Yahshya (Jesus), sendo, portanto, a reencarnação de Jah (Jeovah ou Deus). s dreads desembarcaram nas Américas a partir da Jamaica. Em agosto de 1834, após o fim da escravidão, eles se popularizaram. O estilo foi adotado por ex-escravizados como forma de afirmar sua cultura diante da sociedade. Vem me regar, mãe! O reggae é super popular no Brasil, especialmente nos estados nordestinos do Maranhão e Bahia. São Luís se tornou a capital do reggae na década de 1980. A Jamaica Brasileira nasceu com a chegada de marinheiros ao porto da capital maranhense com discos trazidos da Jamaica. Pelo menos é o que reza a lenda. Ao G1, o antropólogo e professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Carlos Benedito Rodrigues da Silva, aponta um caminho diferente. O docente explica que as pessoas que foram trazidas escravizadas para o Maranhão e para a Jamaica pertenciam aos mesmos grupos, daí o gosto pelo reggae.“Tem algumas semelhanças dos quilombolas jamaicanos com os encontrados no Maranhão, e também nos ritmos jamaicanos com os ritmos do tambor de crioula. Possivelmente essas pessoas foram trazidas do mesmo lugar”, pontua. Na Bahia, o movimento tem como referência o cantor Edson Gomes, autor de sucessos como Árvore e Camelô. O gênero se faz presente nas ruas de Salvador, tocando nas caixinhas de som de vendedores ambulantes e animando festas na praia. Tudo a ver com o sol dominante e o céu azul da boa terra. Gilberto Gil chegou a gravar um disco homenageando a carreira de Bob Marley. O baiano produziu o álbum em Kingston, na Jamaica, ao lado de nomes como Rita Marley, Judy Mowatt e Marcia Griffiths, as I Threes.